Por Danielle Costa
Autora do canal Manas Digitais
O Brasil já registrou 14,7 milhões de desempregados segundo dados do IBGE (2021), entretanto a área de tecnologia viu no mesmo período um aumento de 178% no número de vagas abertas. O setor de Tecnologia da Informação (TI) segue na direção contrária a dura realidade que a economia brasileira vive. Mas sem profissionais de TI, não há investimento ou oportunidade que se garanta. Assim, diante do déficit de profissionais da área, empresas estão tomando a responsabilidade na educação para encontrar maneiras de suprir suas demandas de crescimento.
Para fazer o negócio crescer o profissional de TI precisa ter uma visão ampla. Sendo importante que a empresa responsável por esse time tenha como meta o aperfeiçoamento constante da equipe, de seus processos e foco em resultados. Nesse sentido, a capacitação tem se tornado essencial tanto para o crescimento da empresa quanto dos seus colaboradores e, por isso, investimentos em educação corporativa vem crescendo nos últimos anos.
Hoje, a educação corporativa aposta em espaços acolhedores e que invistam fortemente em formação profissional. Ela vai muito além dos treinamentos. Treinamentos organizados, programas de retenção de talentos e uma cultura de lealdade, fazem destas iniciativas o que há de mais eficiente no mundo corporativo.
Em uma reportagem da revista Financial Times (2021), a pandemia da COVID-19 acabou abrindo uma janela de oportunidade para este tipo de investimento, sobretudo com o aquecimento do mercado de plataformas online de educação. Várias empresas têm cada vez mais enxergado a importância do EAD Corporativo, como forma não apenas de ter profissionais melhores em seus quadros, mas também como uma excelente iniciativa para retenção de novos talentos.
E no meio de tudo isso como incentivar mais mulheres, pessoas pretas, pessoas trans, pessoas LGBTQI+, a ingressar neste mercado? Como buscar novos talentos e suprir a demanda de tecnologia das empresas? Falta, na área de educação corporativa, conhecimento de aprendizagem. É mais fácil aprender sobre negócios do que sobre educação.
Muitas empresas financiam e participam de projetos de educação corporativa para tornar os preços mais atraentes. Além disso, há empresas e organizações que se preocupam com o impacto social da inclusão digital. Colaborando com seus conhecimentos para a profissionalização de novas pessoas para o mercado de tecnologia, trazendo comunicação, planejamento de carreira e competências de profissionais do futuro a um grupo de pessoas que não estão acessando as vagas universitárias.
Desta maneira, as Manas Digitais juntamente com outras empresas têm somado esforços para oportunizar que mais mulheres, principalmente recém-formadas ou em transição de carreira ocupem estes espaços. Já que a presença feminina na área de tecnologia é baixa, devido uma questão cultural e histórica por trás dessa realidade.
Em 2018 a ONU Mulheres apontou que apenas 17% dos programadores no mundo eram do sexo feminino. Em 2019, o programa YouthSpark, da Microsoft, apontou que, no Brasil, somente 18% dos graduados em ciência da computação e 25% dos empregados em áreas técnicas de TI eram mulheres. Não à toa que o número de programas e empresas que investem em formação e recrutamento para obterem maior diversidade em suas equipes vem aumentando muito ao longo dos anos.
Destas vagas de formação e capacitação ofertadas para desenvolvedores júnior, quantas pessoas realmente conseguem ocupar vagas para atuar em TI? Quais os índices de evasão em programas de bolsas para mulheres? Quantos programas se preocupam também com a formação de soft skills em vez de apenas “cuspir” conteúdo técnico em cima das participantes? O marketing das ações afirmativas estão se sobrepondo ao processo de ensino e aprendizado?
Estamos vivendo a era da ética de responsabilidade. O futuro está sendo construído! O novo demanda colaboração e experimentação. O foco da educação corporativa saiu da estratégia e foi para o indivíduo. O novo desafio é como transferir aprendizado para o comportamento. É preciso trabalhar a educação em uma concepção de mudanças nas empresas. Precisamos reduzir o gap entre aprender e aplicar. E sim, o feedback é um fator importante no processo de aprendizagem dentro das empresas e deve ser bastante verdadeiro com os resultados alcançados.
Para atrair talentos femininos em TI sua empresa não pode se resumir apenas a pedir por divulgação de vagas as comunidades que promovem mais mulheres na tecnologia. Ações afirmativas são atos ou medidas especiais e temporárias, tomadas ou determinadas pelo estado, espontânea ou compulsoriamente, com os objetivos de eliminar desigualdades historicamente acumuladas, garantir a igualdade de oportunidades e tratamento, compensar perdas provocadas pela discriminação e marginalização decorrentes de motivos raciais, étnicos, religiosos, de gênero e outros.
Existe muito trabalho nas comunidades de mulheres! As empresas precisam se aproximar delas, afinal é lá que o seu público está. Mas todo o trabalho que está sendo feito de forma árdua por estas mulheres tem que ser valorizado e não podem ser invisibilizado. Senão a mudança cultural não será alcançada. Deem subsídio para estas comunidades e empresas, todos podemos crescer juntos durante este processo, suporte essas comunidades e aí sim, sua empresa vai contribuir com um mundo mais diverso e inclusivo!
Nós mulheres representamos mais da metade da população no mundo, então é lógico que representemos mais da metade da força de trabalho na área de TI. Já passou do momento de garantir que a igualdade de gênero exista para o bem de todos, e isso significa cada vez mais mulheres em cargos de liderança e mais incentivos para meninas seguirem os estudos e carreira em tudo o que estejam interessadas.
O foco das Manas Digitais é o conhecimento como fonte de inovação e vantagem competitiva. Trabalhando com propósito para proporcionar formação profissional adequada e promover mais meninas na computação e mais mulheres na tecnologia! Nós por nós, Manas! E juntos com empresas que acreditam num mundo melhor para todes!
Demais perguntas:
Como foi receber o convite para participar como colunista da Muito Além da Nuvem Review?
O convite foi muito bem-vindo em um momento incrível para as Manas Digitais, depois de três anos de projeto vinculadas a uma das maiores universidades federais brasileira, a UFPA como órgão executor, decidimos nos tornar Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). Como um grupo formado por mulheres que tem muita experiência e vivência no mercado e na pesquisa em TI unida com novas gerações que anseiam ocupar novos espaços na tecnologia, fazer parte de uma revista como “Muito Além da Nuvem Review” é aumentar o alcance do que temos a dizer, principalmente sobre ações afirmativas em educação promovendo mais meninas e mulheres na TI, principalmente na região amazônica, gratidão a esta nova parceria!
Quais são as pautas que as Manas Digitais pretendem abordar nas próximas edições?
As Manas Digitais vão tratar principalmente sobre ações afirmativas em educação na área de TI e discussões sobre Inclusão Digital no Brasil. Além de questões de gênero relativas à retenção de talentos femininos (mulheres recém-formadas, mulheres em transição de carreiras, mães na TI).